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Documentário vira ferramenta na luta contra tragédia da silicose

Grave doença que atinge trabalhadores do setor de mármores/granitos e da construção civil é tema de vídeo lançado pela ICM para alertar sobre a situação

Publicado: 14 Novembro, 2024 - 11h25 | Última modificação: 14 Novembro, 2024 - 11h58

Escrito por: Redação CONTICOM | Editado por: João Andrade

Cena do Documentário
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Uma doença que atinge de forma grave e silenciosa centenas de trabalhadores é o tema de um documentário lançado em outubro e que pode se transformar numa importante ferramenta para ajudar entidades filiadas à Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (CONTICOM-CUT) na luta contra o avanço da silicose.

 Esse é um dos objetivos do documentário “Abaixo da Superfície: Morte Silenciosa na Indústria de Pedras”, produzido pela Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM, ou BWI na sigla em inglês), em cooperação com o FNV Vakbond (o maior sindicato de trabalhadores da Holanda) e apoio do Sindicato dos Trabalhadores do Mármore e Granito do Espírito Santo (Sindimármore).

 

Assista aqui o documentário no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=AezFxyh_COI&t=13s

 

A silicose é uma doença que se caracteriza pela inalação e acúmulo da poeira de sílica (ou óxido de silício) nos pulmões. Essa poeira tóxica é gerada em grandes quantidades nas atividades de corte e beneficiamento das rochas do setor de mármores e granitos. A sílica é também o principal componente da areia e matéria-prima para a fabricação do vidro e do cimento.

 “Esse vídeo é importante para chamar a atenção da sociedade, do poder público, dos órgãos de fiscalização e também do mundo inteiro sobre como está a situação dessa doença no Brasil, em especial no Espírito Santo, o maior produtor e exportador de rochas ornamentais do país. Quem compra pedras do Brasil precisa saber que elas podem estar manchadas com sangue do trabalhador”, diz Pablo Pereira, diretor do Sindimármore e secretário-geral da CONTICOM-CUT.

A preocupação do sindicalista não se restringe apenas ao avanço da doença nas pedreiras capixabas. Segundo ele, como o produto cortado e beneficiado no Espírito Santo é direcionado para a construção civil, o trabalhador desse setor que também corta essas pedras de forma seca acaba virando vítima em potencial da silicose.

 

 

‘Doença invisível’

Pablo Pereira relata que, além das graves consequências clínicas dessa doença, outro problema preocupante é a subnotificação de casos e as dificuldades até mesmo do próprio INSS em reconhecer a silicose como uma doença ocupacional.

O sindicalista explica que quando o trabalhador aparece com dispneia (falta de ar), cansaço excessivo, pressão alta e pulmão inflamado, sintomas característicos da silicose, ele geralmente acaba diagnosticado com doenças como pneumonia ou tuberculose quando recorre ao sistema de saúde.

 “Parece que estamos falando de uma doença invisível, que quase não existe, mas na verdade ela afeta um grande contingente de trabalhadores. O Ministério da Saúde apontava apenas três casos de silicose este ano, mas no banco de dados do sindicato já temos no mesmo período mais de 200 trabalhadores com diagnóstico fechado para silicose”, explica Pereira.

Essas centenas de diagnósticos de silicose só foram possíveis graças ao que o dirigente da CONTICOM-CUT classifica como um “trabalho de formiguinha” do sindicato, que pega os trabalhadores com sintomas e os leva para a capital, onde passam por exames mais específicos e são atendidos por médico pneumologista especialista.

“Com relação às empresas, o que o sindicato tem feito é cobrá-las para que interrompam as perfurações e cortes de pedras de forma seca e adotem equipamentos umidificados, que impedem ou minimizam a geração da poeira de sílica que acaba inalada pelos trabalhadores”, explica o diretor do Sindimármore.

 

Perigo nos canteiros

A tragédia da silicose também foi um dos temas pautados na penúltima Reunião da Direção Ampliada deste ano da CONTICOM-CUT, realizada de forma virtual no último dia 28/10. Na ocasião, foram apresentados aos dirigentes os perigos e características dessa grave doença que também ameaça trabalhadores nos canteiros de obras.

 Em sua fala na reunião, Kléber José da Silva, assistente social do Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador de João Pessoa (Cerest-JP), explicou a importância da prevenção e do conhecimento dessa doença que provoca perda de peso, insuficiência respiratória, com evolução para falência múltipla dos órgãos, podendo chegar à morte.

 “A maioria dos trabalhadores que desenvolvem o adoecimento pela sílica só procuram os serviços de saúde quando a doença já está instalada. É preciso agir na prevenção, através da fiscalização e da alteração de processos do trabalho”, afirma Kléber José.

Dentre as ações sugeridas nesse contexto de prevenção, o especialista citou a distribuição de uma cartilha com linguagem apropriada para os trabalhadores, outra destinada aos empregadores alertando sobre a necessidade de adoção de medidas de SST (Saúde e Segurança no Trabalho), e um vídeo com médico pneumologista divulgando a importância de um olhar especial dos profissionais de saúde.