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Conticom-CUT mobiliza setor moveleiro para minimizar impactos do tarifaço de Trump

Estados do Sul são grandes exportadores para os EUA e sindicalistas afirmam que o anúncio das tarifas de 50% já afetou trabalhadores com redução da atividade, férias coletivas e até demissões

Publicado: 31 Julho, 2025 - 17h57 | Última modificação: 01 Agosto, 2025 - 11h08

Escrito por: Redação CONTICOM | Editado por: João Andrade

Divulgação Sitracom-BG
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Em Bento Gonçalves-RS, sindicato filiado à Conticom debate impactos do tarifaço no setor moveleiro

Os possíveis impactos negativos para os trabalhadores na indústria da madeira, especialmente os do setor moveleiro, com o tarifaço anunciado no último dia 9 de julho pelo presidente dos EUA, Donald Trump, entrou na pauta da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom-CUT) no sentido de debater com os dirigentes de sindicatos filiados meios para enfrentar a situação.

Isso porque, mesmo antes de entrar em vigor – a data inicialmente estabelecida por Trump para início da cobrança da tarifa de 50% a todo produto importado do Brasil era 1º de agosto –, a medida já tem gerado impactos em polos moveleiros do Sul do Brasil que são grandes exportadores, como Bento Gonçalves (RS) e São Bento do Sul (SC), com a redução das atividades, decretação de férias coletivas, e até demissões.  

“A apreensão é muito grande aqui na nossa região porque já estamos vendo algumas empresas reduzindo atividades sob alegação da diminuição de pedidos feitos pelos norte-americanos”, atesta Adriana Machado de Assis, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores na Construção e Mobiliário de Bento Gonçalves (RS).

“Preocupação, angústia, ansiedade”

Situação semelhante vem sendo registrada em cidades como São Bento do Sul e Campo Alegre, no norte de Santa Catarina, região que reúne cerca de 7 mil trabalhadores distribuídos em 300 empresas produzindo móveis que em sua maioria (62%) são destinados ao mercado dos Estados Unidos.

“Em nossa atuação sindical temos notado que as palavras mais pronunciadas são preocupação, angústia, nervosismo e ansiedade, com todos na torcida para que surja alguma novidade sobre essa taxação. Temos duas empresas, que somam cerca de 400 trabalhadores, que já concederam 15 dias de férias por força dessa taxação”, afirma Airton Edson Martins de Anhaia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul e Campo Alegre.

No Paraná, o tamanho do impacto no setor madeireiro pode ser sentido em números. Segundo dados divulgados pela Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM, ou BWI na sigla em inglês) em suas redes sociais, empresas sediadas em Jaguariaíva e Telêmaco Borba colocaram grande parte de suas equipes em férias – apenas uma delas enviou 1.500 de seus 2.500 trabalhadores para casa.

Outra empresa, além de férias coletivas, confirmou a redução de cerca de cem funcionários de seu quadro de 2.800 em Ventania e Telêmaco Borba. Em Guarapuava e Quedas do Iguaçu, cuja produção é focada nos EUA, uma empresa paralisou suas operações, exceto as áreas administrativas, e enviou 400 de seus 800 funcionários para férias.

Manifesto contra tarifaço

Segundo Cláudio Gomes, presidente da Conticom-CUT, a preocupação na indústria da madeira de um modo geral com a eventualidade da taxação é válida apesar da imprevisibilidade das decisões do presidente dos EUA. Gomes lembra que sempre é possível que Trump prorrogue ou negocie a decisão, como habitualmente tem feito com outros países do qual eles tenham muita dependência, como ocorre com os insumos básicos e alguns produtos do Brasil.

“É geral a preocupação que a redução das exportações para o mercado norte-americano possa gerar demissões e também situações difíceis nas negociações. Diante disso, algumas categorias têm aventado a possibilidade de discutir com o empresariado condições para preservar os empregos”, disse o presidente da Conticom-CUT.

Gomes diz ainda que a Conticom-CUT vem debatendo junto com o Macrossetor Indústria da CUT e sindicalistas da indústria da madeira ações para minimizar impactos para os trabalhadores. Dentre essas ações está a divulgação de um manifesto (veja pontos abaixo) com considerações que os trabalhadores elegeram como importantes sobre o tarifaço. 

Pontos do Manifesto do Macrossetor Indústria da CUT

  • Criação de um espaço tripartite permanente de articulação entre governo, trabalhadores(as) e setor empresarial, para coordenar estratégias comerciais, industriais e diplomáticas
  • Atuação junto a entidades representativas americanas, como a AMCHAM, órgãos diplomáticos e organismos multilaterais, para denunciar e combater medidas unilaterais e protecionistas

  • Políticas de estímulo ao crédito e incentivos tributários, vinculados à manutenção e geração de empregos, com participação ativa do BNDES

  • Políticas de proteção ao trabalho, articuladas com a política industrial, para impedir o avanço da precarização
  • Apoio à diversificação comercial e produtiva, reduzindo a dependência dos EUA, com base nos instrumentos da Nova Indústria Brasil (NIB)

  • Fortalecimento das micro e pequenas empresas, com acesso ao crédito, qualificação e estímulos à inovação
  • Fortalecimento do mercado interno, com políticas de consumo, crédito e justiça tributária

 

  • Criação de mecanismos regionais de resposta, como fundos multilaterais de emergência para enfrentar sanções e guerras comerciais

 

  • Diálogo com os trabalhadores e trabalhadoras nos locais de trabalho e mobilização nas ruas e redes, a exemplo do Ato dia 01/08, em todas as regiões do Brasil