Escrito por: Redação CONTICOM
Para a CONTICOM, balanço dos acordos fechados no primeiro semestre reforça importância da mobilização por reajustes acima da inflação
Os trabalhadores e trabalhadoras da construção civil em diversas regiões do Brasil vêm conquistando reajustes superiores ao índice de inflação nos primeiros cinco meses de 2024. Para a Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira filiados à CUT (CONTICOM), a conquista é fruto da capacidade de mobilização e negociação dos sindicatos.
Dentre os estados que registraram reajustes acima da inflação estão São Paulo, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Paraná. Nestes casos, os reajustes variaram entre 4,5% e cerca de 6,5%, para uma inflação acumulada em torno dos 3%.
É o caso dos trabalhadores da construção pesada do Paraná. Com acordo assinado na última sexta-feira (14/6) após seis mesas de negociação, a categoria terá um reajuste nos pisos de mais de 2,5 pontos percentuais acima da inflação. A nova CCT definiu que todos os pisos da categoria terão reajuste de 6%, diante de uma inflação acumulada de 3,34%, o que representa ganho real de 2,57%. Já os salários acima dos pisos terão aumento de 5% (ganho real de 1,61%).
“Foi uma importante vitória, pois conseguimos índices de reajustes similares aos do ano passado, porém com índice inflacionário menor, o que significa maiores percentuais de ganho real. Em outras palavras, quer dizer que os trabalhadores da construção pesada do Paraná terão aumento da massa salarial, com mais poder de compra”, explica Raimundo Ribeiro dos Santos Filho, o Bahia, presidente do Sintrapav/PR.
Em João Pessoa, o reajuste fechado ficou entre 6% e 6,48%, com a conquista de nova redação sobre transparência dos pagamentos realizados em regime de produção.
Em alguns casos, como em SP, ganhos reais não eram registrados há vários anos. “Um estudo do Dieese mostra que fazia 12 anos que a construção civil de São Paulo não conseguia mais de 1% de aumento real e neste ano fechamos 4,5%. Foi difícil, foi desgastante, tivemos até de ameaçar greve no estado, mas o resultado foi positivo”, avalia Marcelo Ferreira dos Santos, presidente do Sindicato da Construção Civil de Guarulhos e Arujá.
No Mato Grosso do Sul, onde o reajuste dos salários em nível estadual foi de 6%, com ganho real de 2,17%, o destaque ficou para o nível de mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras como fator fundamental para o resultado das negociações.
“O ganho real foi conquistado graças aos trabalhadores que se mobilizaram, inclusive com algumas paralisações no ano passado em Dourados, Três Lagoas e Campo Grande. Esse ano chegamos a soltar edital com indicativo de greve, o que forçou o patronal a negociar e a melhorar os índices. Quando os trabalhadores estão mobilizados, a campanha fica potencializada”, afirma Aline Ferle, presidenta do sindicato da categoria em Dourados-MS.
Em Pernambuco, Reginaldo Ribeiro, presidente do sindicato local da Construção Civil e Pesada, destacou que, além do reajuste com ganho real – a CCT foi fechada com índice linear de 5% –, a campanha foi vitoriosa também porque conseguiu “amarrar” algumas cláusulas para o próximo ano.
Além da importância da mobilização da categoria em busca do aumento real, dirigentes consultados pela redação da CONTICOM-CUT destacaram a força extra garantida nas mesas de negociação pela adoção de campanhas unificadas, situação registrada em estados como SP, MS e ES.
“A gente sabe que sindicatos de cidades menores muitas vezes não têm a força necessária numa mesa de negociação, e por isso a gente aqui da capital fecha a CCT por todo o estado. Foi bom ver o espírito de luta dos trabalhadores voltando, foi uma campanha mais que vitoriosa”, afirmou Virley dos Santos, presidente do Sintraconst-ES.
Ganhos expressivos nos benefícios
Além dos reajustes acima da inflação nos salários, as CCTs do setor da construção civil fechadas no primeiro semestre também se destacaram pela conquista de índices ainda mais significativos no reajuste de benefícios, como no vale alimentação.
No Espírito Santo, onde o reajuste nos salários ficou em 6%, retroativo a 1º de maio, o cartão alimentação passou de R$ 700 para R$ 900, um aumento de 28,5%. Para Virley dos Santos, que também é diretor adjunto de Formação da CONTICOM, a campanha foi vitoriosa tanto pelo ganho real nos salários, mas também por esse aumento significativo no benefício de alimentação.
Já no MS, Aline Ferle lembra que vários benefícios também receberam reajustes importantes, como os mais de 18% no vale-alimentação (VA) e 12% no café da manhã. Além disso, lembra a dirigente, a mobilização também garantiu a dobra no VA, que é uma espécie de 13º do benefício de alimentação que deve ser pago 30 dias após homologação da CCT.
Em São Paulo, Marcelo Ferreira dos Santos, que também é diretor da CONTICOM-CUT, destaca que o vale-alimentação foi reajustado em 10%, com ganho real de 6,77% acima da inflação. Com isso, o VA passou a R$ 450 por mês e o ticket para R$ 30 por refeição.
Na construção pesada do Paraná, o Vale Refeição passou de R$ 24,50 para R$ 26 (reajuste de 6,12%), enquanto o seguro de vida subiu mais de 5%, passando de R$ 53.300 para R$ 56.000. Já o Kit Mamãe e Bebê, que é pago por ocasião do nascimento de filhos dos trabalhadores e trabalhadoras, foi de R$ 530 para R$ 562 (6% de reajuste).
No Espírito Santo, nova Convenção reajustou vale alimentação em 28,5%
Luta por ganho real prossegue
Em alguns estados, com data-base neste mês de junho, a campanha está em andamento, mas as negociações seguem a tendência de manter como foco principal a luta por aumento real. Estão nessa situação os Sindicatos dos Trabalhadores na Construção Civil de Manaus e Curitiba.
“Ainda estamos na fase de negociação, mas é claro que a luta aqui também é em função do ganho real. Está na pauta e na mesa que queremos ter ganhos reais acima da inflação”, avisa Laureno Grunevald, o Lauro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores(as) nas Indústrias da Construção Civil de Curitiba e Região Metropolitana (Sintracon-PR).