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“Batendo de frente com a empresa você está pedindo uma bala na cabeça. Quer morrer?”

Em carta à presidenta Dilma, Paulo Roberto de Paula, presidente do Sindmontagem de Três Lagoas-MS, denuncia ameaça de morte

Publicado: 11 Abril, 2012 - 16h26

Escrito por: Leonardo Severo

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Montagem Industrial de Três Lagoas-MS (Sindmontagem), Paulo Roberto de Paula, enviou recentemente uma carta à presidenta Dilma Rousseff em que denuncia inúmeros crimes praticados pela empresa Montcalm, terceirizada da Eldorado Brasil, que constrói na localidade – com R$ 2,7 bilhões do BNDES - a maior fábrica de celulose do mundo.

 

Na carta, o dirigente sindical acusa a empresa Montcalm Montagem Industrial SA e o seu gerente administrativo, Antonio Osly Pereira, de “tramar, financiar, e seguir com ameaças e violência” os trabalhadores.

A seguir, publicamos, resumidamente, as denúncias apresentadas pelo Sindicato:

 

1- Discriminação e Lista “Negra”

 

Paulo denuncia que foi demitido ao anunciar que iria fundar o Sindicato dos Trabalhadores em Montagem Industrial e que centenas de operários da cidade, mesmo sem ter participado de greves, são impedidos de trabalhar em virtude de fazerem parte da lista ‘negra’ da META – “empresa que gerencia a entrada dos funcionários das terceirizadas no site da obra ELDORADO BRASIL FABRICA DE CELULOSE”.

 

2- Inicio da Ostensiva Guerra

 

Que ao saber da fundação do Sindmontagem, Antonio Osly Pereira, gerente administrativo da MONTCALM, “iniciou uma ostensiva guerra contra minha pessoa e contra os diretores do Sindmontagem, colocando nossas famílias em estado de apavoro com bruscas demissões e ameaças”.

 

3- Falta de Liberdade Sindical/Trabalhador foi surrado

 

Que na assembléia de fundação do Sindmontagem, no dia 11 de outubro de 2011, às 19h, Antonio Osly patrocinou seguranças armados para tentar impedir a realização da assembléia, não conseguindo atingir seu objetivo. Terminada a Assembleia, um grupo de seguranças armados esperaram o trabalhador Elpidio Neto enquanto se dirigia, de bicicleta, até sua casa. Provavelmente os mesmos milicianos que tentaram impedir a realização da assembléia, de surpresa, “pararam o trabalhador na beira da rodovia e investiram contra ele, espancaram e ameaçaram”. “Elpidio foi covardemente surrado, ficando com o rosto vermelho de tanto tomar tapas na cara, pois descumpriu ordem do senhor Antonio Osly de não abrir os portões do alojamento, pois os trabalhadores estavam sendo mantidos fechados e impedidos de sair e participar da nossa assembléia. Em virtude das severas ameaças e violenta surra, o companheiro Elpídio, com medo de que os milicianos atacassem sua família, não fez ocorrência policial. Aterrorizado pela tortura física e psicológica sofrida, Elpídio se mudou às pressas de Três Lagoas, mas colocando-se a disposição para futuramente testemunhar o acontecido”.

 

4- Ofensas e demissões injustas

 

Que o senhor Antonio Osly Pereira me demitiu e me chamou de: ”vagabundo”, “pois quem funda sindicato é vagabundo”, bradando para que todos os trabalhadores ouvissem. “Me ofendeu na frente do senhor Cleidimar Lovera, caldeireiro e diretor do nosso Sindicato e de mais 50 pessoas que estavam na sede de recrutamento da empresa”. Que o mesmo empresário também demitiu e ofendeu a Cleidimar, e ordenou à PALMONT (sub-empreiteira da Montcalm) a demissão do mecânico industrial Edson Cardoso da Silva, vice-presidente do Sindmontagem. Ambas as demissões já foram denunciadas ao Ministério Público do Trabalho (MPT), mas até o momento absolutamente nenhuma resposta.

 

5- Intimidação com prisão e cerceamento da liberdade sindical e do direito de expressão

 

Que no dia 17 de Novembro de 2011, quando da elaboração do documento de denúncia de maus tratos dos trabalhadores no alojamento da estrada boiadeiro, a Montcalm acionou a policia militar para conduzir o presidente do Sindmontagem à Policia Federal sob a acusação falsa de “perturbação à ordem’. Houve uma manifestação, com os trabalhadores partindo em caminhada de oito quilômetros até a cidade, onde foi formulada denúncia ao Ministério Público do Trabalho.

 

6- Intimidação através de pedido judicial

 

Que a Montcalm entrou com pedido ao juiz para proibir a atuação do presidente do Sindmontagem. (O pedido foi negado pelo juiz).

 

7- Ameaça de Morte/ Violência e Covardia...

 

“Que provavelmente fora o senhor Antonio Osly Pereira quem patrocinou milicianos para me ameaçar de morte em frente a CLIMEB, caso eu não desistisse da atuação sindical, me dando prazo para sumir da cidade, conforme Boletim de Ocorrência registrado na Policia Civil”.

 

8- Violência contra os trabalhadores, contra o presidente da FETRICOM e contra o presidente do SINDMONTAGEM.

 

Que no domingo 29 de Janeiro de 2012, por volta das 16 horas, em frente ao alojamento NH, saída para Campo Grande, o presidente do Sindmontagem e diretores da FETRICOM (Federação dos Trabalhadores na Construção do Estado do Mato Grosso do Sul) haviam ido atender denuncia feita via celular por um trabalhador que alegava que milicianos estavam espancando seus colegas. “Ao chegar ao local e presenciar as cenas de violência, e quando os seguranças armados viram que um dos nossos diretores fotografava as cenas, tomou a câmara da mão dele e, após me colocarem de mãos para o alto, escorado no muro. Em seguida fui agredido violentamente por milicianos que iam se revesando com socos nos meus ouvidos e proferindo violentas ameaças: - Você briga por hora itinere seu idiota, sabe que isso vai causar a tua morte. Tem muito dinheiro em jogo, nós temos uma bala preparada para você, você fica batendo de frente com o diretor da Montcalm, você esta pedindo para morrer” “- Se você aparecer na assembleia amanhã cedo vai tomar uma bala na cabeça“...” Paulo denuncia que “após meia hora recebendo socos e ameaças ao pé do ouvido, cusparadas e puxões de cabelo”, foi deixado a mais de 12 quilômetros de casa, tonto, com a pressão alta disparada, e com os lábios sangrando.

O presidente da Fetricom-MS e diretor da Conticom/CUT,  Webergton Sudário (Corumbá) testemunhou a agressão. Na mesma ocasião, muitos trabalhadores da PARANASA – também subcontratada da Eldorado – “estavam sendo obrigados por milicianos a assinar a demissão e entrar a base de tapas na cara, socos e ponta pés, no ônibus de volta ao Maranhão”. Pressionada pelos demais empreiteiros, a PARANASA”fez um limpa no seu quadro a fim de punir quem iniciou o movimento grevista”.

 

9- Furto do livro ata do SINDMONTAGEM/Supressão de documentos oficiais.

 

“Que no dia 26 de janeiro de 2012, dia em que a policia investiu contra os trabalhadores atacando-os com balas de borracha e gás, no fervor da greve, o senhor Antonio Osly Pereira subtraiu da mão de um trabalhador o livro de ocorrências do nosso sindicato”. A subtração, denuncia o Sindmontagem, “se deu com o objetivo de fazer fotocópias da lista com nomes dos trabalhadores da comissão de negociação que eu havia lavrado, provavelmente para demiti-los”. A suspeita, denunciou, “foi efetivada logo em seguida, pois a referida lista já copiada circulou entre os trabalhadores na tentativa de desqualificar minha liderança”. A lista foi encaminhada pelo Sindmontagem ao MPT no mesmo dia da supressão do livro, para que os trabalhadores da lista fossem protegidos contra investidas desleais e demissões. Infelizmente, “até o momento absolutamente nada foi feito para proteger ou indenizar esses trabalhadores”.

 

10- Fogo no alojamento da Montcalm

 

Ficou evidente que o clima de revolta dos trabalhadores ao ver seu companheiro apanhar de um segurança no alojamento foi o motivo para que os mesmos atirassem fogo nos alojamentos. “Muitas paralisações e protestos teriam sido evitados se a Montcalm tratasse os trabalhadores em conformidade com a CLT e dentro de parâmetros sociais norteados pela conduta ética e respeitosa. “No episodio do incêndio dos alojamentos muitos trabalhadores perderam os seus documentos pessoais e demais pertences que foram consumidos pelo fogo, sem contar que a policia investiu contra os trabalhadores, que sofreram violência desmedida, sem nenhuma prova da autoria do crime”.

 

11- Violência contra atividade sindical precisa ter fim

 

Diante das investidas empresariais contra o Sindmontagem, seus diretores não conseguem mais emprego na cidade, o que ameaça a própria sobrevivência das suas famílias. “Ficamos ainda mais vulneráveis às investidas covardes por parte do empregador, que paga para demitir injustamente, paga para bater, paga para ameaçar, paga para prender, paga para bater nos trabalhadores que se recusam a assinar rescisão de contrato trabalhista faltando verbas”. A terceirizada da Eldorado, alertou Paulo, “Paga para empresa de segurança particular patrulhar a minha casa e a casa dos demais diretores do Sindmontagem em busca de movimentação sindical. Que se não houver uma medida preventiva por parte das autoridades, certamente vai pagar para matar algum trabalhador, pois a Montcalm, “trata os trabalhadores com arrogância e falta de respeito”.

 

12- SOLICITAÇÃO DE PROVIDÊNCIA DO JUDICIÁRIO

 

Em pesquisa na internet foram encontrados vários registros e reincidências de maus tratos aos trabalhadores por parte da Montcalm, o que fez os trabalhadores solicitarem providências urgentes do poder judiciário e do governo federal, “para que possamos salvaguardar nossa integridade moral e física e continuar com nosso trabalho sindical, exercendo nossos direitos democráticos, referentes à liberdade sindical, aos direitos humanos, e direitos trabalhistas”.

 

13- Ameaça da CARTA SINDICAL

 

Que Antonio Osly Pereira vem apostando no poder econômico e nas influências políticas para ameaçar os trabalhadores da montagem industrial de Três Lagoas, dizendo que, se preciso, serão gastos “milhões” para que o registro sindical não saia do Ministério do Trabalho.

 

14- Abuso do poder econômico

 

“Que a Empresa Montcalm Montagem Industrial S/A não contente em tentar nos impedir judicialmente para que não exerçamos a atividade sindical, chama e orienta seguranças armados para reprimir, intimidar e nos ameaçar. Tão logo nossos diretores chegam aos alojamentos ou em frente á obra são expelidos com violência”.

 

16- Apoio da JUSTIÇA DO TRABALHO

 

“Que precisamos de uma medida judicial para que possamos realizar nossa campanha salarial 2012 e exercer nossos direitos de expressão, sempre velando pela ordem, e respeitando a legislação vigente, garantindo assim, para ambas as partes, a prática dos princípios democráticos”.