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Camargo Correa e Odebrecht ameaçam na TV demitir trabalhadores e usinas viram campo de guerra

Tentativa de acabar com a greve por imposição não funcionou

Publicado: 29 Março, 2012 - 23h54

Escrito por: Luiz Carvalho, de Rondônia

 

Na noite dessa quarta-feira (28), a Camargo Correa, representante do consórcio responsável pela construção da usina de Jirau, e a Odebrecht, à frente da hidrelétrica de Santo Antônio, ambas em Rondônia, divulgaram um comunicado nas emissoras de TV ameaçando com demissão todos os operários que não retornassem às suas atividades.

A ideia era apostar na divisão dos trabalhadores para o fim da paralisação. Porém, o que se viu foi a transformação de um movimento pacífico em uma mobilização prestes a explodir. No final, não houve volta ao trabalho em nenhum dos casos.

Em Jirau, já são 20 dias de uma greve que começou no dia 9 de março pelos 1.500 trabalhadores da terceirizada Enesa Engenharia, em protesto contra precárias condições no alojamento, e se estendeu a todo canteiro. Já em Santo Antônio a definição do movimento paredista ocorreu no último dia 26.

A categoria, cuja data-base é em maio, quer 30% de aumento salarial, pagamento de 100% de todas as horas extras, baixada de 10 dias a cada 70 trabalhados, entre outros pontos.  A empresa oferece 5% de aumento antecipado e pagamento dos dias parados para o retorno ao trabalho, proposta que foi recusada pela base em assembleia.

Na primeira obra, um grupo de 400 trabalhadores fechou o acesso principal ao canteiro durante toda a manhã, sob os olhares atentos de policiais da Companhia de Operações Especiais do Estado (COE) e da Força Nacional. Porém, o caso mais grave ocorreu em Santo Antônio, onde o clima tenso imperou e acabou com o confronto entre um grupo de trabalhadores e policiais. Com isso, todos os foram dispensados novamente sem prazo para o retorno.

A arte da truculência
Por volta das 6h, representantes da CUT, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira (Conticom) e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero), que tentam negociar com os consórcios, chegaram a Jirau e viram um cenário de caça às bruxas.

Enquanto um grupo com cerca de 400 pessoas se deslocava do refeitório rumo à entrada da hidrelétrica para protestar contra a falta de diálogo, agentes da Força Nacional e da COE aguardavam com armas em punho e preparados para o combate no acesso principal ao canteiro.

Certamente, os trabalhadores superaram as expectativas da Camargo Correa, primeiro por reagirem à pressão da empresa e, segundo, por não danificarem o patrimônio, deixando claro que a barricada montada era apenas para exigir melhores condições de trabalho.


Também pela atuação rápida do Sticcero, representado pelo seu vice-presidente, Altair Donizete. “Quando a turma chegou conversamos e dissemos que estaríamos juntos para fazer o movimento, mas que não poderíamos entrar em conflito para não nos prejudicarmos. Demos o recado sem que houvesse qualquer motivo para o conflito”, explicou.

Para o presidente da Conticom, Cláudio Gomes, as empresas adotam uma postura absolutamente equivocada. “Tentaram esvaziar essa greve na base da intimidação, ao invés de buscar o diálogo, apostando que os trabalhadores não iriam reagir. Mas, reagiram e se não fosse o sindicato assumir a liderança dessa situação poderíamos ter um conflito com graves consequências”, acredita.

Sem voz
Durante a confusão, o armador Neto Amorim, natural do Maranhão, fazia uma reclamação comum a muitos: a falta de pagamento de horas extras. Porém, para ele, a incapacidade de ouvir a quem dá lucro às empresas é o mais grave. “A revolta de todos é que não temos uma resposta exata e eles querem dar pressão psicológica em todo mundo. Isso a gente não aceita”, disse.

Muitos foram convocados ao trabalho pela ameaça na TV. Outros, receberam mensagens no celular e houve até quem tivesse sido convocado pelos encarregados. Enquanto isso, os integrantes da comissão de trabalhadores eleitos pelos próprios companheiros eram barrados na portaria exatamente no momento em que a manifestação terminava e os operários retornavam aos alojamentos. Caso do pedreiro Guilherme Ferreira, que parecia indignado com o cenário. “Não se justifica a presença de tantos policiais, em nenhum momento houve quebra-quebra como no ano passado”,

A justificativa
A negociação entre trabalhadores e policiais não era a única em andamento naquele momento. Em Porto Velho, capital rondoniense, a secretaria de Segurança e representantes da Camargo Correa se reuniam. Segundo informações que o Portal da CUT apurou, o governo de Rondônia apontou a necessidade de indicar outra solução para a falta de segurança, já que não poderia deslocar constantemente o contingente de policiais para a obra. Era tudo que a Camargo Correa gostaria de ouvir e pode ser a grande senha para solicitar a intervenção massiva da Força Nacional.

Como já alertara o secretário de Relações de Trabalho da CUT, Manoel Messias, a empresa poderia adotar uma postura autoritária nas negociações para forçar o tensionamento dos conflitos e, assim, pressionar o envio das tropas federais à Rondônia. Dessa forma, obrigando os operários a voltarem ás suas atividades pela intimidação e não resolvendo os problemas em questão.

De certo, por enquanto, apenas a imposição da Justiça de Rondônia, que passa a adotar uma postura progressista ao entender a motivação dos trabalhadores, e agora cobra a abertura do diálogo por parte de Camargo Corrêa e Odebrecht. Uma nova audiência de conciliação foi marcada para esta sexta-feira (30), às 15h, no Tribunal Regional do Trabalho, em Porto Velho.