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Pressão da Camargo Correa amplia conflito em Jirau

Empresa enviou mensagens para celular dos operários afirmando que greve havia terminado; ação desrespeita compromisso nacional da construção civil assinado pela empresa

Publicado: 28 Março, 2012 - 15h19

Escrito por: Luiz Carvalho, de Rondônia

O décimo oitavo dia de greve na usina de Jirau, em Rondônia, contou com dois fatos marcantes que revelam a estratégia de coerção adotada pela Camargo Corrêa para tentar acabar com a greve no canteiro de obras sem solucionar o conflito.

Além de impedir a comissão de trabalhadores escolhida pelos próprios companheiros de ingressar na hidrelétrica, a empresa utilizou mensagens de celular para convocar alguns operários a retonar a seus postos. A ação ocorreu pouco depois de o pessoal da terceirizada Enesa Engenharia decidir encerrar o movimento, após assembleia na manhã desta terça-feira (27).

Desrespeitosa, a medida ampliou a tensão no local de trabalho e fez com que o plebiscito marcado para esta quarta (28), com a intenção de definir a continuidade ou o fim do movimento, fosse adiado para evitar confrontos.

“Até essa decisão, a greve caminhava de forma tranquila. Medidas assim resultam em uma situação de descontrole e radicalizam a situação”, alertou o presidente da Confederação dos Trabalhadores da Indústria da Construção e Madeira (Conticom), Cláudio Gomes.

Nos bastidores, comenta-se que a Camargo Correa estaria interessada em endurecer a negociação para solicitar ao governo federal a intervenção da Força Nacional como forma de “resolver” a situação de maneira truculenta. “A intenção pode ser deixar a coisa se acirrar para que os trabalhadores se sintam obrigados a voltar na base da pressão, o que afastaria a necessidade de negociação com o sindicato por melhores condições na usina”, avalia o secretário de Relações do Trabalho, Manoel Messias, que intermédia o diálogo ao lado de Gomes e do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Rondônia (Sticcero).

Além de autoritária e pouco inteligente, as medidas da empresa desrespeitam o Compromisso Nacional para Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Construção, do qual ela é uma das signatárias. Entre outros avanços, o documento finalizado em fevereiro prevê a criação de uma comissão sindical de representantes da base.

Ironicamente, o compromisso construído por trabalhadores, governo e patrões surgiu após a insatisfação com as precárias condições de trabalho tomar conta de Jirau e Santo Antônio – outra usina em construção no Estado de Rondônia. Pelo jeito, ainda não houve tempo hábil para a Camargo Correa entrar no clima da democracia e do diálogo.

História da luta – No último dia 9, cerca de 1.500 trabalhadores da Enesa Engenharia, empresa contratada pelo consórcio Energia Sustentável do Brasil para instalação de turbinas na usina de Jirau, resolveram cruzar os braços para cobrar da direção melhoras na infraestrutura dos alojamentos, da área de lazer e o aumento do vale alimentação. Três dias depois, os outros 14 mil contratados diretamente pela Camargo Correa, uma das sócias do consórcio, também aderiram ao movimento.

Porém, na manhã desta terça-feira (27), o pessoal da Enesa decidiu em assembleia voltar ao trabalho, enquanto os demais continuam com as atividades suspensas. Na ocasião, por conta de um empate na votação entre aqueles que desejavam voltar e os que queriam continuar a mobilização CUT, Conticom e Sticcero optaram por definir a situação em uma votação nas urnas. Decisão que até o momento, permanece suspensa.

Negociação continua
Enquanto em Jirau a tensão aumenta, a greve na hidrelétrica de Santo Antônio ganha novos contornos definidos pela Justiça. Em audiência de conciliação do dissídio de greve, a desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho, Maria Lima, definiu ampliar a participação da base e acatar a composição de uma comissão com sete trabalhadores a serem escolhidos em assembleia para colaborar com o sindicato no processo de negociação e buscar um acordo para o movimento que teve início nesta segunda (26).

Representado por seu vice-presidente. Altair Donizete, o Sticcero apresentou como pauta para a próxima audiência 8% de antecipação salarial, a extensão do plano de saúde aos familiares dos operários e o aumento antecipado de R$ 150 na cesta básica. Até então, tanto Camargo, responsável por Jirau, quanto Odebrecht, que negocia em Santo Antônio, haviam oferecido 5% de antecipação salarial e o pagamento dos dias de greve.

Como o tribunal convocou as duas hidrelétricas para negociação, a expectativa é que exista uma junção do processo, já que a proposta negociada em ambas é a mesma. Não há outra saída, portanto, fora do respeito ao processo de negociação.