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#15M: Greve nacional da educação deverá ser a maior de todos os tempos

Para organizadores da mobilização, adesão de vários setores mostra que não somente trabalhadores, professores e alunos, mas toda a sociedade é contra os cortes de recursos na educação.

Publicado: 14 Maio, 2019 - 19h09

Escrito por: Redação CUT

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Mais de 70 universidades em todo o país já anunciaram adesão ao Dia Nacional de Greve da Educação, nesta quarta-feira, 15 de maio. Outras 30 universidades estão em processo de discussão sobre como participar da greve e devem decidir até ao fim da tarde desta terça (14).

A mobilização contra a reforma da Previdência e em defesa da aposentadoria teve início em escolas do ensino básico, fundamental e médio das redes pública estadual e municipal de todo o país e foi ampliada para o ensino superior, técnico e escolas da rede privada após o anúncio dos cortes de recursos na educação anunciados pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).

A greve desta quarta-feira caminha para ser uma das maiores mobilizações da história para a educação, na avaliação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE), Heleno Araújo.

“Os cortes anunciados pelo governo”, explica ele, “afetarão até mesmo outras instituições, inclusive privadas, que recebem recursos do governo para manterem bolsas de estudo”.

“Outras, como a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), que recebem recursos do governo e serão afetadas, também aderiram à paralisação”, diz Heleno.  

Em São Paulo, o Conselho de Reitores de Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), divulgou nota na segunda-feira (13) em que “conclama a comunidade acadêmica a debater problemas da educação e da ciência no dia 15 de maio”. O texto ainda cita que as pesquisas realizadas pelas instituições públicas formam os “melhores quadros profissionais do país, em todas as áreas do conhecimento”.

Outros setores

Trabalhadores técnico-administrativos das instituições também vão aderir à greve. Para as entidades que representam esses trabalhadores como a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), os cortes de recursos atingem diretamente as funções administrativas.

Para o coordenador da Fasubra, Marcos Otávio, “o percentual de entidades filiadas à instituição que aderiram à greve (90%) é o maior índice desde a greve contra a PEC 55 (do congelamento dos gastos públicos por 20 anos)”. O dirigente afirma que com exceção a Amapá e Rondônia, trabalhadores administrativos de todas as outras universidades no Brasil vão entrar em greve nesta quarta.

Ele ainda afirma que os trabalhadores de universidades estaduais, representados pela federação também estão mobilizados.

A greve

Organizada também para ser uma greve contra o sucateamento e a mercantilização da educação pública brasileira, a mobilização ganhou ainda mais força com o recente anúncio pelo governo Bolsonaro, de cortes de recursos da ordem de 30%, para a educação.

Os argumentos de Bolsonaro para os cortes são de que pesquisas científicas realizadas no Brasil estão concentradas nas universidades particulares.

Heleno Araújo, da CNTE, rebate a justificativa. Para ele, Bolsonaro é um presidente mal informado. “Há muito tempo ele não sabe das coisas, não conhece os dados da educação. Nem seus ministros, que chegam a apresentar dados errados, tanto sobre as pesquisas como de orçamentos de instituições”.

Um levantamento feito pela Research in Brazil, feito pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES), mostra que entre 2011 e 2016, mais de 95% das publicações cientificas referem-se às universidades públicas. No topo do ranking está a Universidade de São Paulo (USP), com 54.108 publicações, seguida da Universidade Estadual Paulista (UNESP) com 20.023; Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 17.279; e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 16.203.

Cortes atingem as estaduais e outros níveis da educação

Segundo o dirigente, o engajamento das instituições estaduais na mobilização é crescente porque apesar de o alvo do governo estar nas universidades federais, as estudais também recebem recursos e serão afetadas.

“Algumas instituições estaduais já estão em greve contra os cortes, como quatro universidades no estado da Bahia. A UFRJ também vem enfrentando uma crise pela falta de repasses. A universidade Estadual de Pernambuco já sinalizou participação no Dia Nacional de Greve da Educação”, comenta o dirigente.

“Essas universidades recebem recursos federais para manterem a estrutura e para bolsas de estudos, e serão afetadas, assim como os outros níveis da educação. Afeta os recursos para a alimentação das crianças na creche, para o transporte de alunos do fundamental e ensino médio, porque sem recursos, os governos não terão como cumprir os pagamentos”, diz Heleno.

Vai doer no bolso do brasileiro

O presidente da CNTE relembra que desde os tempos de Collor há uma tentativa de desmonte do Estado como operador dos serviços públicos, inclusive na educação. Heleno explica que governos neoliberais, como é o atual, de Bolsonaro, estão comprometidos apenas com o mercado.

“A intenção é fazer o povo acreditar que o Estado não funciona e entregar tudo para a iniciativa privada. Desde a campanha ele [Bolsonaro] já dizia que queria implantar o ensino à distância, fala em escolas militares, mas não conta que quem vai ganhar dinheiro com isso são as grandes empresas, que vão explorar esse mercado”, critica o dirigente.

Heleno reforça que educação pública e de qualidade é direito de todos e os cortes de recursos vão sucatear as instituições ‘empurrando’ alunos às universidades pagas. “Vai onerar as famílias. Se a universidade deixa de ser pública, quem tem dinheiro é que poder estudar”, diz o presidente da CNTE, que complementa: “Ministro de Bolsonaro já até disse no Twitter que universidade é  pra poucos”, se referindo ao ex-ministro da Educação Ricardo Veléz.

Heleno Araújo também reforça que a luta pela educação, neste momento, é de toda a sociedade: “Não são apenas os trabalhadores, os alunos, os professores. Pais, mães e responsáveis, de estudantes do ensino básico ao superior e do ensino profissional, têm que ocupar as ruas nesta quarta-feira”.