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São Pedro não tem culpa

A fonte de água, lazer, renda e sustento está acabando, e a culpa é da falta de investimentos dos sucessivos governos do Estado de São Paulo

Publicado: 18 Novembro, 2014 - 17h36

Escrito por: Bocadura

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Por Angelo Angelini

"Uma das maiores estiagens da história, somada a problemas estruturais no sistema de abastecimento de água, atormenta a população do Estado mais rico da Federação. Mas a falta d’água não pode ser atribuída apenas à ausência de chuvas no último período. A principal causa dela pode ser creditada à falta de investimentos dos sucessivos governos do Estado que raramente vão atrás de ampliação de novos mananciais.

A Sabesp, empresa estadual responsável pelo abastecimento, deixou o saneamento básico de lado e aposta em investimentos nas bolsas de valores. Com isso o objetivo da empresa mudou. A prioridade agora é o de dar lucro para os acionistas. Não é a toa que a companhia que até os anos 90, era comandada por engenheiros sanitaristas, passou a ser comandada por economistas e advogados. A prioridade agora é o lucro para os acionistas que anualmente recebem em torno de R$ 500 milhões.

A lógica do lucro na Sabesp vem desde a época da ditadura militar, mas foi durante os governos do PSDB que a mercantilização da água ganhou força quando o capital da empresa foi aberto em Bolsa de Valores. Os usuários ficaram para o segundo plano. E deu no que deu.

Em, alguns lugares falta água até para remédio como é o caso da cidade de Itu que enfrenta um problema desesperador no abastecimento.  Segundo especialistas, na grande São Paulo, a capacidade de captação é mesma de 30 anos atrás. Nesse período, a população da capital cresceu em 10 milhões de pessoas (saltou de 12 milhões para 22 milhões). Os mananciais existentes não são capazes de atender a essa demanda. Essa é a grande causa da falta d’água em São Paulo. Agora imagina em Itu que depende da água de outras localidades."

**Ângelo Angelini  é presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Itapevi e diretor da Associação Solidária da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo.

A fonte secou

Meses a fio de estiagem não seca apenas os grandes sistemas de abastecimento de São Paulo como o Cantareira, o Alto Tiete, Guarapiranga, Rio Grande e Alto Cotia. Reservatórios menores espalhados pelo Estado também estão minguando. É o caso do sistema Itupararanga, que armazena por volta de 286 milhões de m³ de água e responde pelo abastecimento dos municípios de Ibiúna, Sorocaba, Votorantim, São Roque, Mairinque, Alumínio e outras cidades vizinhas. A represa irriga centenas de propriedades agrícolas nos arredores e, graças à beleza de sua paisagem, é um dos principais polos de atração turística da região.

Construída em 1911, a represa é formada pelos rios Sorocabuaçu, Sorocamirim e Una. A barragem fica em Votorantim e tem 38 metros de altura, o equivalente a um prédio de mais de dez andares.

A responsabilidade pelo esvaziamento dos reservatórios ninguém assume, mas sabe-se que não é só de São Pedro. Grandes estiagens acontecem em qualquer lugar do mundo. Faz parte do ciclo hidrológico. Não é só a chuva a culpada. O governo tem a sua parcela de culpa, pois não investiu na ampliação de mananciais que são os mesmos de 30 anos atrás, apontam especialistas. Também têm responsabilidades as prefeituras locais que, por desmazelo, não fiscalizam e são coniventes com a invasão descontrolada nas áreas de mananciais. O acúmulo de lixo e esgoto clandestino são inevitáveis. Em muitos locais o nível de água é zero e só sobrou um pequeno fio de água. Uma ponte improvisada com um sarrafo de 15 cm de largura serve de ligação entre as duas margens.

Nunca vi nada igual, lamenta seu Benedito, que há dez anos vive nas margens da represa. “Tá secando tudo, tem muito lixo pra todo lugar e ninguém toma providencias”, lamenta.

Uma coisa é certa: se não cair chuvas torrenciais nas áreas dos reservatórios, o racionamento que deveria ter começado ainda no verão passado, será inevitável. Nos últimos dias São Pedro demonstrou boa vontade  agora cabe aos governantes estadual ou municipais, fazerem a sua parte caso contrário não terão de onde tirar água para abastecer cidades importantes, entre elas Alumínio, Ibiúna, Mairinque e São Roque.