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Parada para manutenção na Repar pode causar cem mortes por Covid-19

O alerta é de cientistas de diversas instituições.

Publicado: 17 Abril, 2021 - 11h06

Escrito por: redação CUT

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A cidade de Araucária, no Paraná, deve registrar, em média, uma morte por dia até o final do mês de julho em consequência de complicações causadas pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. E todas essas vidas perdidas estarão relacionadas à decisão da Petrobras de determinar uma  parada de manutenção na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), que vai provocar aglomeração na unidade, inclusive com a vinda de trabalhadores de outros estados.

A estimativa consta na “Nota Técnica COVID-19: Avaliação de risco para Araucária, no estado do Paraná”, divulgada nesta quinta-feira (15) por grupo de pesquisadores do  Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outras instituições cientificas.

A parada de manutenção, que coloca  2 mil trabalhadores a mais na produção, provoca aglomerações e o consequente aumento da possibilidade de circulação do vírus que, com as novas cepas são mais transmissíveis e letais.

A equipe de cientistas que fez a pesquisa sobre o avanços da pandemia em Araucária é a mesma que previu a tragédia de Manaus.

De acordo com a Nota Técnica que eles divulgaram, “o fluxo de pessoas que se estima receber de outros estados e municípios em Araucária para a parada de manutenção realizada pela Petrobras tende a propiciar maior circulação viral, que resultará na média de cerca de uma morte por dia até o final de julho, sendo que para todo o mês de junho, pode-se esperar pelo menos 35 mortes”. 

Na última segunda-feira (12), os petroleiros e petroleiras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas paralisaram as atividades  reivindicando respeito à vida e a saúde. A categoria exige que a petroleira suspenda por tempo indeterminado a manutenção da unidade pelo menos durante o período crítico da pandemia.

Leia mais: Petroleiros da Repar entram em greve por tempo indeterminado com parada para manutenção

Para chegar na estimativa de mortes provocadas pela parada de manutenção na Repar, os pesquisadores utilizaram uma análise de risco com base em previsões a partir de modelos Susceptíveis – Expostos – Infectados – Recuperados (SEIR).

Com base nesse método algumas cidades têm evitado colapsos do sistema de saúde e salvado vidas. “Exemplo disso é Curitiba, que adotou medidas restritivas entre o período 13 de março a 04 de abril, se guiando por recomendações de uma nota técnica que utilizou o modelo SEIR, o que evitou que a terceira onda atingisse uma proporção quatro vezes maior que a primeira e segunda ondas vivenciadas pela capital paranaense”, diz a nota dos pesquisadores.

“ O modelo SEIRS de reavaliação de Curitiba apontou que mais de 1500 vidas foram salvas pelo isolamento social empregado no município”, destaca a análise.

Os mesmos pesquisadores realizaram um estudo semelhante em Manaus quatro meses antes da segunda onda da pandemia do novo coronavírus na capital do Amazonas, que chamou a atenção do mundo quando pacientes começaram a morrer asfixiados por falta de oxigêncio. Na época, os pesquisadores alertaram o poder público local sobre a tragédia que estava por vir. Porém, as medidas recomendadas não foram adotadas pelo município.

Os perigos, alerta o estudo sobre Araucária, não estão restritos ao município. “Realizar tal manutenção neste momento da pandemia representa um risco para toda a população de Araucária, como também para a grande Curitiba e municípios vizinhos, uma vez que a pandemia em Curitiba não sofreu recrudescimento adequado atingindo limiares de controle, e apresenta capacidade máxima de ocupação das UTIs. Potencialmente, existe risco para todo o estado do Paraná”, dizem os cientistas.

Sobre as potenciais vítimas, a Nota Técnica aponta os trabalhadores da parada, com o agravante de envolver “risco de transmissão cruzada de diferentes variantes, dado que se estima receber pessoas de vários estados com circulação de variantes que atualmente não circulam no Paraná.

A nota alerta ainda para os riscos de disseminação ampla das seguintes variantes P.1 (Manaus); P.2 (Rio de Janeiro); B.1.1.28 (Distrito Federal); B.1.1.7 (Inglaterra); B.1.1.143; B.1.235 e B.1.1.94.

Com recomendações de contenção de danos da parada de manutenção da Repar, o estudo sugere a postergação do procedimento até a “imunização via vacina de 70% de toda população de Araucária, no limiar de imunidade de rebanho”.

“A permanência de pessoas exógenas no município, neste momento da pandemia, pode aumentar os níveis de transmissão e disseminação de variantes do SARS-CoV-2 não registradas no estado, de forma que se recomenda que pessoas de fora não permaneçam no município esperando retomada das atividades, uma vez que se poderia demorar meses para que a imunização da população seja atingida nos limiares de segurança para tal”, diz a nota técnica.

Além de pesquisadores do INPA e da UFMG, a equipe científica responsável pelo estudo de Araucária reúne pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), além de uma pesquisadora aposentada do Butantan.

Com informações de Davi Macedo, do Sindipetro PR/SC