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Com o maior faturamento do setor, Odebrecht não paga o melhor salário aos operários

Empresa teve o maior lucro de sua história em 2010. Representantes dos trabalhadores da construção civil frisam questões menos favoráveis quanto às médias salariais

Publicado: 28 Novembro, 2011 - 14h50

Escrito por: Leticia Cruz, Rede Brasil Atual

 

Com lucro líquido de R$ 2,787 bilhões em 2010 – o maior de sua história – e em primeiro lugar no rankingde faturamento, o grupo Odebrecht enfrenta insatisfação de entidades representantes dos trabalhadores da construção civil por não remunerar seus funcionários à altura de outras empresas do ramo, que não atingem os mesmos níveis de faturamento. A constatação é feita em levantamento da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Fenatracop), que inclui dados da própria Odebrecht. Responsável pelas obras de quatro estádios que devem sediar a Copa do Mundo de 2014, a empresa é acusada de negligenciar as relações de trabalho durante paralisações por melhores salários e pagamento de horas extras.
Enquanto a média salarial de pedreiro pode chegar a R$ 1.400 nas outras construtoras que também integram o "grupo do bilhão" – que faturaram, individualmente, mais de R$ 1 bilhão em 2010, como a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Galvão e OAS –, na Odebrecht ainda beira o piso da categoria, de R$ 917. A remuneração do auxiliar também fica em torno do mínimo do setor, de R$ 767. Para altos cargos, como engenheiro civil e mestre de obras, a empresa fica na quarta posição entre as maiores médias salariais. A Andrade Gutierrez paga até R$ 9 mil, enquanto a Odebrecht chega a R$ 4 mil.
A construtora é a segunda com mais funcionários (em média 25 mil), atrás da OAS, com 40 mil. Do total de seu faturamento (R$ 6,28 bilhões, que representa 71% de receitas do exterior), 48% são de riquezas criadas, 19% de lucro, 6% são gastos em pagamento de impostos e 27% em salários e encargos. Em todo o mundo, o grupo Odebrecht tem 150 mil trabalhadores.
Para Eduardo Armond, assessor da Fenatracop, as greves que eclodiram a partir do primeiro semestre deste ano nos canteiros de obra da Odebrecht são decorrentes da falta de contrapartidas sociais da empresa. "Talvez um dos motivos deste lucro astronômico esteja exatamente aí, pois se compararmos com outras construtoras, que tiveram a metade da faixa de lucro, tendo inclusive uma produtividade maior que a Odebrecht, a poderosa empresa paga a metade da média salarial do setor a seus funcionários", rechaçou, em nota.
Por meio da assessoria de imprensa, a Odebrecht ressalta que o lucro obtido pelo grupo é calculado a partir do faturamento de todas as empresas vinculadas, como a Braskem – do ramo petroquímico – ETH Bioenergia, Odebrecht Realizações Imobiliárias, Foz do Brasil, Odebrecht Óleo e Gás e Odebrecht Transport. Portanto, segundo a empresa, não é possível relacionar os ganhos da construtora com o pagamento dos funcionários.
Para a Copa do Mundo de 2014, a construtora gerencia atualmente a construção da Arena Pernambuco, em Recife (PE), do estádio do Corinthians (SP), a reforma do Maracanã (RJ) e a reconstrução do estádio da Fonte Nova (BA), com uma média de 1.500 trabalhadores em cada. Além destas, outras obras não relacionadas estão sendo encaminhadas, como a construção da usina hidrelétrica de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, duplicação da Ferrovia Carajás (PA) e a construção do trecho 7 da Linha 5 do Metrô de São Paulo.

Melhores condições

Entre os casos emblemáticos de luta por condições melhores de trabalho – que inclui maior remuneração - envolvendo a empresa estão a crise em Jirau e Santo Antônio, em março (com gerenciamento do consórcio Madeira Energia, integrado pela Odebrecht e Furnas), e o estopim da onda de paralisações nas obras para a Copa, que ocorreu nas obras do estádio do Maracanã em agosto deste ano. Nilson Duarte da Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada Intermunicipal do Rio de Janeiro (Sitraicp), lembra ter sido "árduo" negociar por valores maiores nos direitos durante as negociações.
"Sempre é difícil, tanto que chegamos a ficar parados mais de duas semanas seguidas", diz. Os funcionários pediam aumento do vale-refeição e da cesta básica, além de maior segurança nos canteiros e plano de saúde. Após intervenção do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro, a paralisação foi encerrada e um acordo entre o consórcio e sindicato foi feito. No entanto, segundo Costa, "a direção do sindicato continua preocupada com os salários e condições de trabalho da categoria".
As paralisações se estenderam entre os trabalhadores da Arena Fonte Nova, na Bahia, e na Arena Pernambuco. A última ocorreu por relatos de assédio moral pelos chefes imediatos nas obras e a demissão de dois integrantes da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa). Na ocasião, a Odebrecht considerou o movimento "descabido" e afirmou que cumpre acordo coletivo integral com os trabalhadores da construção civil.