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Crise projeta o Brasil entre os protagonistas do mundo

No aniversário de dois anos da maior turbulência dos últimos 80 anos, Brasil comemora altas(...)

Publicado: 15 Setembro, 2010 - 08h49

Escrito por: IG Economia

No aniversário de dois anos da maior turbulência dos últimos 80 anos, Brasil comemora altas taxas de crescimento econômico

 

Não foi a “marolinha” que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperava, mas a crise do subprime ajudou o mundo a voltar os olhos para o Brasil. Dois anos após o estopim da maior turbulência econômica dos últimos 80 anos – completados nesta quarta-feira, aniversário da quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008 -, a economia brasileira ganhou holofotes pela rápida recuperação, após a primeira queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 17 anos, ao contrário do que acontecia em crises anteriores das décadas de 1980 e 1990. Agora, no pós-crise, o País sustenta uma das maiores taxas de crescimento do mundo.

 

Enquanto na Europa e nos Estados Unidos ainda existem temores com relação a uma nova depreciação da economia, puxada, principalmente, pelos altos índices de desemprego, no Brasil, a discussão é outra: poderá a economia seguir crescendo em um ritmo tão acelerado? Para este ano, espera-se que o PIB cresça acima dos 7%, o que será a maior expansão dos últimos 24 anos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que, até 2014, o Brasil deve crescer, em média, 5,5% ao ano

 

O Brasil e o mundo

 

O desempenho da economia brasileira surpreendeu o mundo. Desde o estouro da crise, o Fundo Monetário Internacional (FMI) errou todas as projeções que fez sobre o Brasil. Já com relação à Europa, o Fundo se mostrou benevolente e acabou surpreendido por resultados ruins das principais economias da região. Mas o Brasil não passou ileso pela crise. Em 2009, o PIB teve queda de 0,2%, o primeiro recuo desde 1992. No entanto, a baixa foi bem menor que a observada em outros países: nos Estados Unidos, a queda foi de 2,4%, a maior desde 1946, e a União Europeia teve baixa de 4,1%.

 

Em 2010, o Brasil também está à frente dos chamados países desenvolvidos: com crescimento de 9% no primeiro trimestre e 8,8% no segundo, o País só é superado pela China em termos de expansão entre as principais economias do mundo.

 

"A recessão por aqui durou apenas dois trimestres, o último de 2008 e o primeiro de 2009, segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE), da FGV", diz Octávio de Barros, economista-chefe do banco Bradesco. "Cabe destacar que a média histórica de recessão no país é de 5 trimestres. Desde então, foram 5 trimestres consecutivos de expansão forte, cuja média foi de 2,0% ao trimestre."

 

Desempenho impressionante

 

“O desempenho do Brasil tem sido extremamente impressionante”, diz Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs e criador do termo Brics (grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China). Para ele, o Brasil deve crescer de 5% a 6% na década e, nos próximos 20 anos, deve responder por 5% de toda economia mundial.

 

O otimismo de O’Neill, no entanto, não deve ser atribuído somente ao desempenho do Brasil no pós-crise. Segundo especialistas brasileiros, a resposta do País está associada a fatores anteriores ao 15 de setembro de 2008. “A crise foi a oportunidade de consolidar a visão de que somos um país estável, previsível e com baixa vulnerabilidade a choques externos”, diz o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências.

 

É praticamente consenso entre os especialistas que o tripé da política econômica – câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal –, o fortalecimento do mercado interno e a consolidação do sistema financeiro sustentaram o Brasil, enquanto o mundo sofria com o congelamento do financiamento Internacional, o baque no comércio mundial e a quebra de instituições.

 

“A crise chegou aqui não pelas causas, mas pelas conseqüências”, diz Rubens Ricupero, embaixador e ex-ministro da Fazenda. “Nos afetou pelo efeito da diminuição do comércio mundial e um pouco pela redução da oferta de financiamento global, enquanto em países europeus e nos Estados Unidos, as causas foram bolha imobiliária, sistema bancário fraco e problemas nas hipotecas.”

 

Ricupero destaca que a crise ajudou o Brasil a ganhar voz no cenário internacional, a partir do momento em que o G20 ganhou força como grande fórum da discussão mundial. No estouro da crise, a presidência rotativa do grupo das 20 maiores economias do mundo era ocupada pelo Brasil.

 

Desde então, praticamente todos os indicadores brasileiros já responderam ao pior da crise. As reservas internacionais – importante “colchão de proteção” contra a variação da moeda – estão em alta há 16 meses, ultrapassando a casa dos US$ 250 bilhões (no estouro da crise, estavam em US$ 207,4 bilhões). A geração de empregos com carteira assinada está em alta em todos os meses de 2010, enquanto a utilização da capacidade instalada da indústria e a produção industrial se aproximam dos patamares pré-crise.

 

Do ponto de vista do consumo (importante motor para a economia), o rendimento médio real habitual dos trabalhadores está no maior nível desde o estouro da crise. Pela primeira vez na história, mais da metade da população passou a compor a classe média. Cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C entre 2008 e 2009.

 

Segundo Daniela Prates, professora de economia da Universidade de Campinas (Unicamp), a crise reforçou a condição do Brasil de “menina dos olhos” da economia mundial. Mas, a situação das contas externas pode fazer com que o cenário fique menos favorável ao País no longo prazo. “Estamos reduzindo nossa capacidade de gerar divisas via exportações e isso gera um déficit alto em transações correntes, aumentando o passivo externo. Sabemos que isso tem um limite”, afirma. Por outro lado, ela acredita que, no curto prazo, a situação será contornada pelo fluxo de capitais e pelas reservas internacionais.

 

Mailson da Nóbrega, da Tendências, não vê motivos para muito otimismo. “O Brasil dificilmente será uma grande potencia nos próximos anos. Eu diria que, se o País fizer tudo certo, daqui a uma geração teremos uma renda per capita parecida com a da Espanha de hoje.”

 

“O nosso bom desempenho é muito recente e durou muito pouco. O resultado só é convincente quando dura duas décadas, como no caso dos asiáticos”, completa Rubens Ricupero.