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Crea pretende vistoriar as 2 mil vigas do Trecho Sul

Objetivo dos engenheiros é verificar a qualidade do material usado na obra; há a hipótese de(...)

Publicado: 18 Novembro, 2009 - 08h09

Escrito por: Estadão

Objetivo dos engenheiros é verificar a qualidade do material usado na obra; há a hipótese de que transporte inadequado danificou peça que caiu

 

Todas as 2 mil vigas dos viadutos, pontes e passagens de nível do Trecho Sul do Rodoanel serão vistoriadas pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea-SP). Uma equipe com integrantes do conselho, das empreiteiras que constroem as pistas e do Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), empresa ligada ao governo estadual responsável pelas obras, começa os trabalhos na próxima segunda-feira.

 

"Precisamos saber se as vigas usadas em todo o Trecho Sul estão em condições de serem utilizadas, se têm as mesmas características das outras, quais são do mesmo lote (das vigas que caíram na sexta-feira), se têm o mesmo padrão de qualidade. Nosso foco são as (vigas) pré-moldadas", afirmou Ademir Alves do Amaral, superintendente operacional e chefe de fiscalização do Crea.

 

Na segunda-feira, o presidente do conselho, José Tadeu da Silva, já havia dito que a colocação de apenas quatro das cinco vigas de sustentação da estrutura da ponte é uma provável hipótese da causa do desabamento que feriu três pessoas na noite de sexta-feira. Trabalha-se também com a hipótese de a viga acidentada ter sido danificada durante o transporte desde o canteiro central da empreiteira, que fica a cerca de dois quilômetros da ponte em construção na Rodovia Régis Bittencourt, ou mesmo que o processo de fabricação da peça pré-moldada não tenha sido adequado. "Esse tipo de estrutura exige que sejam colocadas as cinco vigas simultaneamente. Colocar quatro, sem avaliar as consequências, pode ter sido o erro ou a falha na construção da estrutura", disse Silva.

 

Essas vigas de concreto pré-moldadas levam 28 dias para maturar. Para acelerar o processo de secagem é utilizado um produto químico que provoca endurecimento e secagem rápidos. "É normal colocar o produto para acelerar o processo. O importante é secar. Por isso, vamos analisar todas as vigas da obra para levantar dados das peças, ver se têm o mesmo padrão", ressaltou Amaral, da fiscalização do Crea.

 

O engenheiro disse que em muitos lotes do Trecho Sul as vigas foram lançadas há muito tempo, inclusive com tráfego de veículos e caminhões. "Poderemos avaliar qual a situação dessas peças", explicou. Logo após o desabamento, o diretor de Engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, afirmou que as outras vigas estão seguras porque desde que foram colocadas têm suportado o tráfego de veículos pesados, o que confirmaria a segurança das estruturas.

 

ACELERAÇÃO

 

Segundo o professor Fernando Uchoa, do Departamento de Mecânica Aplicada e Estruturas, da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a utilização de vigas pré-moldadas de concreto na construção de rodovias acelera a obra. "Podemos dizer que a solução em vigas pré-moldadas de concreto é mais rápida e mais barata, mas precisa de um certo número de vãos para se tornar competitiva." Uchoa destaca que a aceleração do ritmo de obra dentro das normas técnicas não causa problemas. "Toda a aceleração que respeite os parâmetros indicados pela boa técnica não acarretará problemas futuros."

 

A investigação do Crea vai levantar também se todas as vigas foram fabricadas pela mesma máquina concreteira e se foi o mesmo projetista que fez os cálculos de todas as 2 mil peças utilizadas na obra toda. As três vigas que caíram na última sexta-feira tinham 45 metros de comprimento e pesavam cerca de 85 toneladas cada uma.

 

Ontem, o secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce, reafirmou que mesmo com o acidente e a paralisação dos trabalhos nesse trecho por 15 dias, a entrega do Trecho Sul do Rodoanel não sofrerá atrasos.

 

Segundo a Dersa, faltam 130 dias para a abertura das pistas ao tráfego. De acordo com Arce, o problema do desabamento será resolvido num prazo máximo de um mês.

 

MPF

 

O Ministério Público Federal (MPF) cobra da Dersa explicações sobre o acidente no Rodoanel. O procurador da República José Roberto Pimenta Oliveira quer documentos sobre o desabamento em dez dias para poder acompanhar as investigações. Ele quer dados sobre o procedimento administrativo instaurado para apurar responsabilidades administrativas e civil.

 

"O MPF exige esclarecimentos sobre as causas do acidente e a apuração das responsabilidades pela ocorrência, uma vez que há verbas federais na obra", disse o procurador.