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Jogos Olímpicos podem gerar 2 millhões de empregos

A realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro trará oportunidades para a economia do(...)

Publicado: 05 Outubro, 2009 - 11h31

Escrito por: Jornal Estado de Minas

A realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro trará oportunidades para a economia do país. Mas também riscos. Atenas, em 2004, até hoje sai caro para a Grécia e é o exemplo mais lembrado. Barcelona, em 1992, contudo, é o caso oposto, já que a cidade espanhola ganhou ares internacionais, popularizou-se e se transformou de vez em polo turístico a partir da Olimpíada. E o Rio, em 2016? Não há consenso sobre o quanto os Jogos movimentarão e significarão em gastos e modernização para o país, mas é certo que as oportunidades são várias, a começar pela geração de empregos, que pode chegar a 2 milhões.

 

A Fundação Instituto de Administração (FIA) da Universidade de São Paulo (USP) estima que o impacto sobre a economia brasileira ultrapasse a casa dos R$ 100 bilhões (R$ 102 bi, segundo o estudo). Desse valor, cerca de um quarto, ou R$ 25,9 bilhões, viria dos governos federal, estadual e municipal, além do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em parceria com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Há expectativa também de injeção de recursos por parte de patrocinadores dos Jogos e da iniciativa privada.

 

O ex-representante da Unesco no Brasil Jorge Werthein ressalta a oportunidade. Argentino que mora há décadas no Brasil – fez questão de lembrar que é cidadão honorário do Rio –, ele atualmente é vice-presidente da Sangari Brasil, empresa que desenvolve e implementa metodologias e materiais na área educacional. “Todos costumam lembrar os ganhos em infraestrutura, mas as oportunidades de agregar valor na formação das pessoas não podem ser negligenciadas”, afirma. Ele cita, por exemplo, o aperfeiçoamento de serviços ligados à rede hoteleira e ao atendimento de turistas, como garçons e tradutores. “A ideia é voltar o Rio para se tornar, definitivamente, uma cidade internacional. Beleza ele tem de sobra, mas recebe um fluxo de turistas estrangeiros muito abaixo do de cidades como Madri, Londres e, principalmente, Paris.”

 

A pesquisa feita pela USP enumera 55 setores econômicos que poderão se beneficiar com os Jogos no Rio. O principal deles é o da construção civil (10,5%), ajudado pela previsão de vultosos investimentos, sobretudo em infraestrutura voltada ao atendimento dos atletas e turistas. Além disso, o estudo destaca os serviços imobiliários (6,3%), serviços prestados às empresas (5,7%), petróleo e gás (5,1%) e transporte, armazenagem e correio (4,8%).

 

Isso tudo vai depender da maneira como serão feitos os investimentos, as áreas priorizadas e sobretudo a gestão do grupo que tocará as obras e serviços. É o que alerta o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, atual presidente do Instituto Brasileiro de Altos Estudos. Em resumo, ele propõe fazer do dinheiro usado no aperfeiçoamento do Rio uma fonte de investimentos, não gastos.

 

“Há riscos e oportunidades. As chances virão evidentemente dos grandes investimentos na preparação da cidade e do país, já que virão muitos turistas”, diz Velloso. “Nunca devemos nos esquecer que, se você gasta em algo, deixa de gastar em outra coisa.” O ex-ministro cita projetos de comunidades faveladas que acompanha no Rio como bom exemplo de investimento, temendo que eles sejam preteridos a favor dos gastos olímpicos. “A questão continua: e o depois? Os problemas continuarão os mesmos? A questão da segurança continuará a mesma?”

 

Grande beneficiário da realização dos Jogos Olímpicos, o segmento de bares, hotéis e restaurantes comemora. O presidente do sindicato da área no Rio, Alexandre Sampaio, estima muitos empregos antes, durante e também depois dos Jogos. Outro estudo, do professor da PUC Campinas Roberto Brito de Carvalho, destaca o efeito multiplicador dos investimentos sobre o Rio e o país. Segundo ele, para cada dólar investido pelo Brasil, outros US$ 3,26 seriam gerados adicionalmente nos anos seguintes. Mais importante, seriam gerados 120 mil empregos por ano até a Olimpíada, número que cresceria para 130 mil nos 10 anos seguintes. Ou seja, mais de 2 milhões de vagas criadas até 2026.

 

O Rio, obviamente, seria o maior vencedor. Mas os benefícios têm potencial de ir além do estado fluminense. O segmento da construção civil projeta a necessidade de construção de ao menos 10 mil quartos de hotel na cidade. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do estado (Sinduscon-RJ) aposta que isso demandará serviços de empresas de outras localidades. Sem contar que o visitante estrangeiro, por já estar no Brasil, tende a visitar outras cidades. Diretamente, Belo Horizonte, além da proximidade com Ouro Preto (que exerce grande atração sobre o turista estrangeiro), vai se beneficiar como subsede dos Jogos de 2016, abrigando partidas de futebol feminino e masculino.

 

Retorno

 

Claro que isso tudo depende da gestão dos recursos. Nesse caso, o Pan de 2007, também no Rio, joga contra. O orçamento previsto inicialmente para aquele evento era de R$ 523,84 milhões, mas o valor realmente gasto foi muito maior, alcançando R$ 3,3 bilhões. Os investimentos privados não ocorreram da forma prevista e a conta foi parar nos cofres públicos – relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou despesas exageradas.

 

Outro exemplo lembrado é Atenas, cujos jogos de 2004 também trouxeram mais prejuízo do que lucro. Oficialmente, o governo grego reconheceu um montante de 9 bilhões de euros (quase R$ 25 bilhões), mas esse valor não incluiu obras com infraestrutura, como a construção de linhas de metrô e bonde.

 

Mesmo esse caso, porém, precisa ser relativizado. A posição do governo da Grécia, por exemplo, é de que vale a pena. “É um investimento de ótimo retorno, tanto em termos financeiros como de imagem de nosso país no exterior”, alegou o governo, em nota oficial no momento em que divulgou os gastos.

 

Há mais, como lembrou o jornal americano The New York Times na semana passada. O dinheiro gasto nos Jogos de 2004 representaram 4% do PIB da Grécia. “Enquanto isso, a proposta do Rio está acima das outras em custo, mas, estranhamente, é a que faz mais sentido econômico. O custo da Olimpíada representa apenas 1% do PIB brasileiro”, disse o jornal.